quinta-feira, maio 19, 2005

competitividade

Oh, não. Parece que depois de algum tempo lá vou eu ter que me violentar intensamente e tentar escrever um post "sério". Sim, porque o tita andou para aí a publicitar o blog e a classificá-lo como "sério". Sério meu Deus, (notem que isto é só uma interjeição), sério! Então vamos lá, que isto acarreta alguma responsabilidade. Peguemos no tema do último post trazido a público pelo meu colega blogueiro, a cultura de palmadinha nas costas. Tem algo de mafioso essa cultura. Uma mão lava a outra, não é verdade? Na minha terra isso chama-se compadrio. Um olhar desatento poderia fazer-nos suspeitar de que se trata da mais pura expressão da máxima cristã "ama o próximo como amas a ti próprio" (é assim a máxima?), mas o problema é que não é. Não farei mais nenhuma análise que leve à conclusão de que somos egoístas por natureza, acho que isso está mais do que provado e falado até à saciedade em posts anteriores; tendo em conta este facto, é óbvio que por trás do compadrio está uma intenção de retorno, um toma lá 20 para amanhã me pagares 50. E acho bem que o pagues, senão quando chegar a minha altura de precisar de ti amanhã e tu não o fizeres, levas uma cabeçada tão grande que me pagas os 20 mas é com juros. Ok, detectámos o fenómeno.
2 conclusões: A) Isto é assim. B) Isto está mal.
E agora, para os leitores íntegros, ou seja, dotados de uma rectidão moral incomparável, seguir-se-á C) Vamos mudar isto (ou pelo menos recusarmo-nos a participar neste festival de injustiça, recusando assim tornarmo-nos iguais a quem criticamos). Pequeno problema aqui. Os leitores com as qualidades que acima referi constituirão cerca de 0,001% da massa total de leitores. Os restantes são, como nós, incoerentes e têm grandes problemas em fazer a transição da teoria distanciada para a execução prática. E no que é que isto dá? Que criticamos os outros quando o fazem, mas que se a oportunidade nos aparece à frente, nem piscamos os olhos.

O que é que nos falta? Cultivo da excelência e confiança nas nossas capacidades, bem como noção de que a cada escolha que fazemos, escolhemos toda a humanidade. Nada mudará se não contribuirmos para essa mudança. Alguma razão para o facto de isto acontecer muito especificamente em Portugal? Bem, talvez o facto de a esta fraca auto-estima termos que aliar a necessidade efectiva de sermos competitivos e de termos que atingir um fim, seja por que meio for. Parece-me que somos um povo pouco preparado para a competição desenfreada e assim, à falta de qualidades reais, fazemos (pelo menos eu faço-o) tudo o que for possível para nos desenrascarmos. E se isso envolve ter que pisar os calos do outro...