quinta-feira, julho 14, 2005

Pura incompetência... ou algo pior?

Tenho um profundo respeito pelos profissionais da comunicação social. É sabido o quanto o trabalho deles enforma as percepções sociais e sinceramente, civilizado como me intitulo, custa-me a imaginar sobreviver muito tempo sem a sensação de permanente actualização noticiosa. Como é óbvio, este grande poder acarreta consigo uma grande responsabilidade. Como é óbvio, a informação noticiosa fornece-nos crenças, alicerçadas no prestígio que atribuímos aos órgãos de comunicação que consideramos sérios, que dispensam verificação empírica. Não experimentamos por nós tudo aquilo em que acreditamos. E por isso... muitas vezes somos induzidos em erro. Se o erro não é intencional, então o próprio jornalista foi enganado e no máximo podemos indignar-nos com a eventual incompetência. Se é intencional... então o caso torna-se mais grave.

O chamado arrastão foi assunto quente do momento cá na terrinha durante algumas semanas, com uma manifestação xenófoba pelo meio a servir-se dele como pretexto. A repercussão internacional foi maior do que nós próprios esperávamos... em muitos serviços noticiosos internacionais o tema foi referido, com consequências provavelmente negativas para o nosso turismo, indústria vital para a nossa economia. Os números dos supostos marginais envolvidos avançados inicialmente eram duvidosos para qualquer indivíduo minimamente racional. Como montar uma operação com 400 ou 500 membros? Passados alguns dias, o número tinha sido dividido por 10 e tornara-se mais plausível. Acontece que lá por ser plausível não significa que tenha acontecido. No entanto, com fotografias, testemunhas oculares, reportagens dos media e declarações oficiais da polícia, não tínhamos razões para duvidar, apenas para lamentar.

Pois essa razão surgiu recentemente, com a vinda a público de uma reportagem de investigação conduzida por Diana Andringa. Ao que parece as informações fiáveis não eram assim tão fiáveis. De facto, houve deslocação minimamente significativa de jovens indivíduos de raça negra para a praia de Carcavelos (os tais 40 a 50). De referir que era o último dia de aulas. O que aconteceu então? Pânico, ou seja... sentimento de medo irracional com consequências imprevisíveis. Alguém se assustou, alguém chamou a polícia. Logo se pensou que teriam havido dezenas de assaltos (só podia, com tanto negro junto). A polícia chegou e disparou tiros para o ar para dispersar. Os negros aperceberam-se de que o aviso era dirigido a eles e naturalmente fugiram. As coisas que vemos nas mãos deles aquando da fuga aparentam afinal ser... os seus próprios haveres, que obviamente levavam consigo aquando da fuga. Nos dias a seguir falava-se em 3 queixas registadas pela polícia. Ao que parece, apenas um assalto foi relatado e este nem sequer ocorreu na praia, passando-se antes em bombas de gasolina nas imediações. Mas então e o responsável pela polícia? Como justificar as suas declarações? Onde foi ele buscar o número avultado de indivíduos supostamente envolvidos e de ocorrências registadas? Aparentemente... à própria comunicação social. Numa curiosíssima inversão de responsabilidades investigativas e informativas, parece ter sido a própria comunicação social a primeiramente informar o referido responsável, que depois se encarregou de a comunicar formalmente e de a difundir a nível nacional através dos restantes meios de comunicação social.

Então afinal o arrastão não aconteceu? Parece que não. Mas o problema aqui não é fáctico, é subjectivo. Se isto foi incompetência ou planeado é impossível dizer, mas parece verosímil que tenha sido puro descuido e vontade de cobrir um furo. No entanto, as consequências saltaram à vista. O racismo latente, subterrâneo e não assumido da nossa sociedade, tantas vezes encoberto pelo politicamente correcto, saltou à vista. Subitamente, aqueles que sempre foram racistas sentiram a opinião pública num ponto tal que não era politicamente incorrecto ser-se abertamente racista. Então, esses cobardes aproveitaram a boleia e entraram na onda geral, quase aliviados por finalmente poderem dizer o que pensam. Que ao menos sirva para sabermos onde vivemos. Mas que não sirva para influenciar decisões sérias, como a política de emigração. Para estúpidos, já bastam aqueles que infundadamente primeiro começaram a gritar com medo da deslocação negra à praia e provocaram tudo isto.

Mais pormenores sobre a reportagem em www.eraumavezumarrastao.net

1 Comments:

Blogger pedro manuel magalhães de andrade said...

pois é meu caro amigo, contudo não se pode ter uma europa unificada que combata o imperialismo capitalista e decadente a qualquer custo, muito menos quando o troco que se tem e a politica para combater esse mesmo imperialismo, é imperialismo e capitalismo! é uma obscenidade tremenda! temos que apostar em economias mistas, em que os estados mantenham um grau de identidade e independencia aceitaveis. os estados necessitam de ter controlo sobre sectores determinantes da economia como as telecom, energias, siderugias, bancas, seguros.... depois havera lugar para pequenos e medios investidores. não é possivel nem aceitavel que continue a haver execiva concentração de riqueza, quando ha tanta miséria. nós europeus, temos uma divida vergonhosa com africa e alguns pontos da asia, devidoa quase 500 anos de colonialismo. temos de ajudar també esses paises, a sairem de crises profundas, introduzir soberanias populares e apoia-los na reconstrução! só conseguimos fazer frente aos eua e á nova china com politicas rumo ao socialismo para que não fiquemos á mercê de interesses economicos de uma mao cheia de burocratas. a democracia é mesmo assim. se se tivesse dito que sim, era uma grande vitoria da democracia, como dois paises votaram não, já se vai ter que fazer novo referendo! hipocrisia da malta!antidemocratas!

19/7/05 12:27 da tarde  

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