sexta-feira, novembro 18, 2005

A big bucket of nothing

Preciso de Verdade e de aspirina -- dizia o irmão Álvaro quando a gripe o atacava. Para mim, a doença é uma entidade ambígua. Quando era miúdo até nem me importava muito de estar doente. Uma constipaçãozita era sinónimo de dias de cama sem ter que me mexer, com a minha avó a levar-me torradas e chá à cama, enquanto eu passava o tempo a ler banda desenhada ou a ver televisão. Às vezes era tão bom (quando a doença não era grave) que até inventava doenças para poder ficar assim um dia em casa, sem ter que me ir chatear à escola. E assim fui crescendo, um puto mimado e irresponsável, na boa.

Hoje em dia já não é bem assim. Tornei-me tão estóico que até vou às aulas se estiver às portas da morte. Se fosse outro diria que me tornei responsável. Mas a doença continua a ser ambígua. Por um lado, não gosto de estar doente. Por outro, parece que ainda há uma reminiscência qualquer desses tempos em que doença era sinónimo de folga. E assim cá estou hoje em casa, sem aulas, engripado e sem conseguir fazer nada. Até tinha coisas para fazer, sei que tinha. Mas não consigo. Afecta-me uma inércia tal que nem os espirros justificam. Flutuo por aqui, sem saber bem o que estou a fazer. É que nem paciência para ficar na cama tenho. Acho-o estúpido -- mas continuo sem fazer nada. É que nada. Nem ler, nem saír de casa. Nada. Nada de positivo ou construtivo para a minha vida. Nada. Nem ter uma ideia, uma intuição qualquer. Nem sequer escrever. E é por isso que este post saiu tão mau.