quinta-feira, março 17, 2005

A pressão social ao sucesso!

Os seres humanos vivem hoje numa constante corrida para arranjar meios de subsistência. Arranjar emprego é a maior das prioridades, e a melhor forma de o fazer é ter sucesso escolar!
Correr atrás de vocação é hoje coisa de poucos sortudos, dos quais: uns têm vocação para algo que lhes permite fruir de rendimentos elevados; e os outros têm um suporte familiar que lhes permite seguir os seus sonhos. Esta ambiguidade faz com que os quadros das empresas estejam cheios de pessoas desmotivadas, a desmotivação impede a produtividade e tudo junto impede o crescimento. Reparem, se eu for obrigado pelo “mercado de trabalho” a seguir uma área que não me interessa, terei que me esforçar muito para me formar, e depois de formado, apenas irei desempenhar as minhas funções de forma a ter a estabilidade económica que motivou as minhas decisões. Caso contrário, se tomar uma decisão por vocação, mesmo que o mercado de trabalho não esteja muito receptivo, eu vou estar em permanente ebulição mental, no geral será agradável a caminhada até me formar, e mesmo que não arranje logo emprego, quando isso acontecer será bastante especial. Quando começar a trabalhar não será chato desempenhar as minhas funções, serei mais produtivo e alem disso, como estarei sempre com ideias novas, irei contribuir para o desenvolvimento do sector e no limite, de toda a economia! Este bom desempenho criará uma procura do tal “mercado de trabalho” pelos meus serviços, fazendo gradualmente subir o meu salário (até um nível superior aquele que iria ter caso estivesse a desempenhar a tal função chata de emprego imediato).
Como seres livres podemos tomar decisões que condicionem o nosso futuro. Não será mais vantajoso escolher um futuro que nos favoreça, sem nos preocuparmos com aquilo que os outros esperam de nos????



Até que ponto essa pressão irá impedir a realização de sonhos? Será possível a vontade de enriquecer superar a vontade de viver? Será que para eu ter sucesso terei que impedir o sucesso de outros?

quinta-feira, março 03, 2005

O insustentável peso de uma ressaca

O que é, na bebedeira, que nos fascina? Será a alienação? Será, como pretendia Baudelaire, a libertação face ao peso esmagador do tempo? Ou será, numa perspectiva completamente idiota (mas que postulamos!) a desinibição fácil proporcionada fisiologicamente pela substância em questão? Para ser sincero, não sei. Talvez seja tudo isto, ou então nada disto. Mas se o estado de bebedeira é bom, então deveria ser constante. Devia ser como o Ser parmenidiano: não foi nem será; simplesmente é. Assim poderíamos surfar constantemente numa sucessão alienada de agoras. É claro que nessa altura não poderíamos falar, em sentido próprio, em "eu". A identidade dissolver-se-ia como o sal na água a ferver. Mas que importaria, se fosse essa a situação desejável? Estaríamos num registo do qual eu só posso falar por suposição, por isso vou-me calar. Aliás, só tenho um leitmotiv (e bem mesquinho) para estar a falar disto: é que se o estado de bebedeira fosse constante, não teríamos ressaca. E eu estou bem ressacado. Oh, como estou ressacado! E o raio da ressaca tolhe-nos as ideias, confunde-nos as prioridades e impõe-nos um mal estar físico que se não tivermos cuidado passa a existencial. Mas que coisa chatinha, sinceramente. Hoje sinto-me tão miserável que até vou fazer aquela promessa que todos os bêbedos fazem nestas condições - nunca mais bebo! (Isto, claro, enquanto me sentir assim, que é a única condição na qual a afirmação faz sentido.)

terça-feira, março 01, 2005

telefonema perdido

Apetece-me despejar a alma num pote roto, verter-me todo e ver se sobra alguma coisa. Atender uma chamada perdida só para me aperceber que ninguém me ouve do outro lado enquanto eu fico desesperado, como um observador omnisciente que espreita a beleza mas não lhe consegue tocar. Incorporar-me num quadro bordado a tons de azul miscigenado em branco e perceber que sou só um boneco à margem. Apetece-me ser, só ser. Mas parece que não pode ser. Tenho medo do vazio...