quinta-feira, julho 14, 2005

TIME Magazine

É bom quando conseguimos fazer chegar a nossa voz mais além. Por vezes, sentimo-nos pequeninos e não acreditamos que possamos fazer qualquer diferença em relação ao que quer que seja, porque nunca ninguém nos irá ligar. Esquecemo-nos é que se deixarmos que esse sentimento nos derrote e não tentarmos, então aí é que nada mudará. Pelo menos nada que possa eventualmente depender de nós.

E é por isso que tentamos. Muitas vezes não conseguimos. Por isso, quando tentamos e por acaso conseguirmos sem o esperarmos, é agradável. Toda a gente conhece o provérbio "If at first you don't succeed, keep trying" e alguns eventualmente conhecerão a piada dele derivada "If at first you do succeed, try not to look too astonished". Pois foi precisamente isto que tive dificuldades em fazer quando me apercebi recentemente do golpe de sorte que se tinha acometido sobre mim.

Sou um fã assumido da revista TIME. Creio que ela é paradigma de uma informação independente e de qualidade. Sou assinante e muita da informação internacional que me chega é precisamente através dela. Assim sendo, e sendo eu estudante de um minor em Ciências da Comunicação com interesses na área do jornalismo e podendo vir a ter eventualmente emprego na área, se algum sonho pudesse ter nesta área era mesmo algum dia poder vir a participar de alguma forma na minha revista de referência. Pois bem, aconteceu. Já revelei anteriormente num post colocado aqui no blog a minha posição sobre a constituição europeia e a minha decepção e indignação com os resultados dos referendos francês e holandês. Fi-lo precisamente no dia em que recebi a edição da TIME que tinha uma reportagem sobre o assunto, através da qual fiquei a saber muito do que não sabia. De facto, a colocação desse post aqui no blog foi precedida por uma carta que enviei à própria TIME, a expressar a minha posição sobre o assunto. Foi a primeira vez que escrevi para lá. Num raro golpe de sorte, a carta foi seleccionada e publicada. De alguma forma, os 2 textos (a carta e o post) complementam-se, sendo que se expressam a mesma opinião, referem aspectos algo diferentes e são também naturalmente formalmente muito diferentes. A carta saiu na edição da TIME de 11 a 18 de Julho (está esta semana nas bancas), tendo sido assinada com o meu nome de nascença, Gonçalo Marcelo. Passo a transcrevê-la:

Have we gone mad? Right now I feel ashamed to be a European. We have lost touch with reality. The French and the Dutch no votes won't help our fragile and relatively undefined political and economic situation in the world one litlle bit. The rejection of the constitution solved no problems, and it wasn't a demonstration of the power of the people. It shattered the dream of a strong, unified Europe that would counter U.S. supremacy.

A carta foi ligeiramente editada. No original, era menos assertiva, mas o conteúdo principal foi respeitado. Se alguém tiver curiosidade em ler o original, transcrevê-lo-ei de bom grado.

Ah, e não se esqueçam de continuar a lutar pelo que querem... nunca é impossível.

Pura incompetência... ou algo pior?

Tenho um profundo respeito pelos profissionais da comunicação social. É sabido o quanto o trabalho deles enforma as percepções sociais e sinceramente, civilizado como me intitulo, custa-me a imaginar sobreviver muito tempo sem a sensação de permanente actualização noticiosa. Como é óbvio, este grande poder acarreta consigo uma grande responsabilidade. Como é óbvio, a informação noticiosa fornece-nos crenças, alicerçadas no prestígio que atribuímos aos órgãos de comunicação que consideramos sérios, que dispensam verificação empírica. Não experimentamos por nós tudo aquilo em que acreditamos. E por isso... muitas vezes somos induzidos em erro. Se o erro não é intencional, então o próprio jornalista foi enganado e no máximo podemos indignar-nos com a eventual incompetência. Se é intencional... então o caso torna-se mais grave.

O chamado arrastão foi assunto quente do momento cá na terrinha durante algumas semanas, com uma manifestação xenófoba pelo meio a servir-se dele como pretexto. A repercussão internacional foi maior do que nós próprios esperávamos... em muitos serviços noticiosos internacionais o tema foi referido, com consequências provavelmente negativas para o nosso turismo, indústria vital para a nossa economia. Os números dos supostos marginais envolvidos avançados inicialmente eram duvidosos para qualquer indivíduo minimamente racional. Como montar uma operação com 400 ou 500 membros? Passados alguns dias, o número tinha sido dividido por 10 e tornara-se mais plausível. Acontece que lá por ser plausível não significa que tenha acontecido. No entanto, com fotografias, testemunhas oculares, reportagens dos media e declarações oficiais da polícia, não tínhamos razões para duvidar, apenas para lamentar.

Pois essa razão surgiu recentemente, com a vinda a público de uma reportagem de investigação conduzida por Diana Andringa. Ao que parece as informações fiáveis não eram assim tão fiáveis. De facto, houve deslocação minimamente significativa de jovens indivíduos de raça negra para a praia de Carcavelos (os tais 40 a 50). De referir que era o último dia de aulas. O que aconteceu então? Pânico, ou seja... sentimento de medo irracional com consequências imprevisíveis. Alguém se assustou, alguém chamou a polícia. Logo se pensou que teriam havido dezenas de assaltos (só podia, com tanto negro junto). A polícia chegou e disparou tiros para o ar para dispersar. Os negros aperceberam-se de que o aviso era dirigido a eles e naturalmente fugiram. As coisas que vemos nas mãos deles aquando da fuga aparentam afinal ser... os seus próprios haveres, que obviamente levavam consigo aquando da fuga. Nos dias a seguir falava-se em 3 queixas registadas pela polícia. Ao que parece, apenas um assalto foi relatado e este nem sequer ocorreu na praia, passando-se antes em bombas de gasolina nas imediações. Mas então e o responsável pela polícia? Como justificar as suas declarações? Onde foi ele buscar o número avultado de indivíduos supostamente envolvidos e de ocorrências registadas? Aparentemente... à própria comunicação social. Numa curiosíssima inversão de responsabilidades investigativas e informativas, parece ter sido a própria comunicação social a primeiramente informar o referido responsável, que depois se encarregou de a comunicar formalmente e de a difundir a nível nacional através dos restantes meios de comunicação social.

Então afinal o arrastão não aconteceu? Parece que não. Mas o problema aqui não é fáctico, é subjectivo. Se isto foi incompetência ou planeado é impossível dizer, mas parece verosímil que tenha sido puro descuido e vontade de cobrir um furo. No entanto, as consequências saltaram à vista. O racismo latente, subterrâneo e não assumido da nossa sociedade, tantas vezes encoberto pelo politicamente correcto, saltou à vista. Subitamente, aqueles que sempre foram racistas sentiram a opinião pública num ponto tal que não era politicamente incorrecto ser-se abertamente racista. Então, esses cobardes aproveitaram a boleia e entraram na onda geral, quase aliviados por finalmente poderem dizer o que pensam. Que ao menos sirva para sabermos onde vivemos. Mas que não sirva para influenciar decisões sérias, como a política de emigração. Para estúpidos, já bastam aqueles que infundadamente primeiro começaram a gritar com medo da deslocação negra à praia e provocaram tudo isto.

Mais pormenores sobre a reportagem em www.eraumavezumarrastao.net

quarta-feira, julho 06, 2005

Prioridades

Portugal é um país cheio de necessidades, é importante para nós definir o que é realmente importante para o desenvolvimento.

Quem me conhece sabe que, para mim, a educação e informação são a melhor forma de potenciar o crescimento. Mas não posso ignorar que o betão seja apontando permanentemente como o principal motor económico e como medida contra cíclica por excelência.

Na minha opinião é irresponsável um estado agir como uma criança pequena que quer tudo o que os seus amigos têm, quero com isto dizer que, não faz qualquer sentido, perante a nossa situação económica, querermos apressar projectos porque os nossos vizinhos ricos (falo da EU a 15) os tenham bastante adiantados. Se quando somos pequenos ponderamos cada passo de forma minuciosa porque com menos de um ano de vida sabemos daquilo que ainda não somos capazes, porque será que pessoas adultas são negligentes quando governam um país? É simples pensar que existem prioridades que exigem o nosso sacrifício e trabalho porque temos plena noção que a nossa vida melhora com isso. Mas há também muitos projectos que não devem ser apressados, devemos esperar pelo tempo certo de fazer as coisas. Se não posso fazer X hoje, vou fazer Y hoje para criar condições para poder fazer X amanha.
Economicamente temos duas opções para uma compra: endividar-me hoje e pagar juros além do preço; ou poupar hoje capitalizando as minhas poupanças de forma a comprar o mesmo com menos investimento inicial. Analisando este conceito podemos ter um raciocínio simples: Se for comprar uma casa não vou poupar durante 10 ou 15 anos, porque a par disso vou estar a pagar uma renda (tenho que ter onde morar), logo, é vantajoso pedir emprestado (supondo que os juros são inferiores ao preço da renda potencial ao longo dos 10 ou 15 anos); por outro lado, para comprar uma segunda casa (casa de férias), temos de sentir algum desafogo financeiro, que pode ter vindo de uma poupança anterior e de um incremento dos rendimentos.
Para comprar uma casa de ferias esperamos algum tempo para poder realizar poupança e eventualmente valorizar-nos profissionalmente de forma a auferir maiores rendimentos.
Transportando isto para os investimentos do estado, posso dar um exemplo simples: é essencial para um país ter vias de comunicação (estradas, pontes, etc.), mas a qualidade dessas vias pode não ser prioridade. Uma estrada nacional, bem ou mal, permite deslocamentos de um lado para outro que mantêm a economia em funcionamento. Esta será a nossa 1ª casa, essencial a nossa vida. Por outro lado uma auto-estrada é um luxo que se paga caro. Se nós ponderamos bem a compra da casa de ferias, um estado deve ponderar bem quando decide fazer uma auto-estrada, pois esta já não é essencial à economia e terá custos no futuro que devem ser muito bem analisados.
Fazer a construção certa no momento certo parece daquelas coisa que não se pode pedir a ninguém, mas quando se fala de milhares de milhões de EUROS no mínimo exigimos que se seja competente e que não se cometam erros. Estes milhões serão pagos por nós e por aqueles que viram depois, para serem mal utilizados, mais vale que sejam canalizados para sectores que realmente fazem falta desenvolver.

Construir não é mau, o que é mau é não ter a noção daquilo que estamos a abdicar para construir.