sábado, janeiro 21, 2006

Catrapum

Tudo se passa como se corresse numa pista de material cada vez mais pegajoso, onde a energia das minhas pernas se ia escoando à medida que o ímpeto da partida evanescia. À medida que a energia diminui, os movimentos desaceleram gradualmente e o próprio solo ganha uma plasticidade envolvente que começa a colar os meus pés, numa osmose onde já não há pés nem pista, apenas matéria quente e fluída. Subitamente, sou engolido. Já não estou cá. Já não sou eu. De repente sou apenas uma bola concentrada de energia submersa no centro da Terra. Mas ainda pulso. Oh, como pulso. Agora já sou só raiva concentrada.

De repente, expludo.

A terra desfaz-se em incontáveis pequenas partículas, mas resto eu. Já sou eu outra vez. Readquiri forma humana. Mas agora estou mais poderoso. Talvez já seja mais do que eu. Qual Fénix renascida, agora sou a própria força do Universo. E não morrerei, nunca.

Talvez seja altura de acordar.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Quem tem medo do lobo mau?

Ridendo Castigat Mores. De todas as demonstrações possíveis de humor, a ironia é aquela que, sendo mais subtil, é a mais poderosa. Revela inteligência e superioridade, afastamento crítico e, por vezes, uma capacidade brutal de destruição.

Pode o humor ser "perigoso"? Certamente. Estamos todos perdidos quando nos apercebemos que não importa o quão séria seja a nossa afirmação ou argumento, já que pode ser sempre respondida com uma sonora gargalhada. Será isso mau? Now, that's a tricky question...

Será que vivemos numa sociedade humorística? Talvez. Será isso mau? Não. Definitivamente, não o é. Quem é que, historicamente, teve medo do poder devastador do riso? Alguns eminentes defensores medievais da religião de Cristo, por exemplo. A propósito disto veja-se o mundialmente famoso Nome da Rosa de Umberto Eco. Numa ditadura o humor é seriamente controlado através de todos os meios de repressão possíveis e imaginários, do lápis azul à pura e simples paulada.

Numa sociedade democrática, a liberdade é esticada até limites menos abafantes, e a tirada humorística circula livremente. É certo que isso leva por vezes a uma falta de critério. É também por isso que uma sociedade como a nossa aceita igualmente humor inteligente como o que é feito pelo pessoal do Gato Fedorento e humor mais estúpido, como o do Fernando Rocha. Mas a questão é: ter-se-á tornado o humor o critério de aceitação de uma tese?

Nalguns meios, sim. Em abono da verdade, talvez quase em todos, nuns mais do que noutros, numa gradação fina de percentagens variáveis. Na stand-up comedy valerá uns 70%, o resto é boa publicidade. No PP valerá talvez 99%, embora eles ainda não se tenham apercebido do facto.

Um último parágrafo para os riso-excluídos. Como todo o critério de valorização que se impõe, também este tem os seus excluídos, os seus indivíduos à margem do sistema, cuja primeira e instintiva reacção quando da sua condição se apercebem é questionarem a própria justiça e pertinência do sistema. Também a risomania tem os seus riso-excluídos. Quanto a estes que fazer? Nada. A utilização do humor sempre foi a melhor estratégia para criticar um sistema. Temos Pena, FEBC. Muahhahahahahahahahahaha

Porque será que para se ser ouvido se tem que ter piada?

Hoje em dia, todos aqueles que querem ser alguém têm de ter piada!
No grupo de amigos temos de ter piada para sermos integrados, no engate para mostrar a vontade, nos negócios para mostrar controlo sobre a situação, até na política para mostrar superioridade!
Será isto tudo necessário?
Não estaremos a tender para um mundo onde os palhaços vão apresentar o jornal da noite, enquanto o Tochas é o nosso presidente da República?
Não será esse um mundo onde não ter piada é como hoje ter “piada”?
Será que somos todos palhaços?
Porque é que não tenho amigos?
Existe um significado para a vida?

Aviso ao pessoal do www.aqueleblog.blogspot.com

Eu, como a maioria dos consumidores em Portugal, visito com certa frequência as superfícies que fazem do Belmiro de Azevedo o homem mais rico deste país.
Os hipermercados concorrem entre eles para ver qual é o mais barato, veja-se as comparações entre o Pingo Doce e o Mini-Preço. Para ganhar esta batalha recorrem a produtos de marca própria. Estes produtos são como os medicamentos genéricos, iguais aos outros mas de marca “continente”. Mas esta guerra leva-os ainda mais longe. Agora podem encontrar-se produtos “ainda mais baratos” com marcas no mínimo “originais”.
O Continente tem produtos das marcas: “é” “pois é” “tal”… e por aí. Bem, para onde caminhamos…? Aqui surge a justificação do título do texto: caminhamos claramente para “aquele-produto” (depois do “tal-produto”). Este aviso é claro e preciso, amigos (e não tão amigos) do aqueleblog, se não querem ver o vosso nome associado a uma lata de atum ou a pensos higiénicos, registem o nome e não deixem que o continente se apodere dele.