domingo, junho 19, 2005

Nunca mais!

Nós não esquecemos. Nós não esquecemos os 6 milhões de judeus exterminados no holocausto. Nós não esquecemos as reacções totalitárias de início do séc. XX, e até onde elas nos levaram. Nós não esquecemos os desastrosos resultados de quase 50 anos de regime de inspiração fascista em portugal. Nós não esquecemos o tipo de políticos que se sabem aproveitar das inseguranças da população para as fazer cair na patacoada demagógica. Nós não esquecemos a forma como a república de Weimar caiu às mãos de Hitler. Porque temos consciência histórica, nós não esquecemos. Porque já o vimos acontecer, nós não esquecemos. Porque nós não esquecemos, gritamos: NUNCA MAIS!

sábado, junho 18, 2005

Arrastão!?

É com vergonha que constato que Portugal é um pais socialmente bastante atrasado.
Este é um país economicamente fraco, com problemas estruturais graves a vários níveis, mas tudo isto seria secundário se socialmente nos sobrepuséssemos às dificuldades.

Na sequência dos tão comentados assaltos na praia de Carcavelos, um surto de opiniões dos comuns portugueses vieram por a nu a nossa ignorância, inflexibilidade e intolerância. Qualquer tipo de criminalidade praticada no nosso país é hoje responsabilidade de raças e etnias que não a nossa. Não será isso facilitar o processo de investigação e encontrar os culpados antes mesmo que os crimes sejam cometidos? Bem, se resolvemos o mistério agora é só prender todos aqueles que não são “portugueses de Portugal” e fecha-los em campos de concentração!!! Assim deixa de haver criminalidade no nosso país!!! Corremos o risco de destruirmos o nosso sistema produtivo por falta de mão-de-obra, a não ser que usemos aqueles que prendemos como escravos!!!


Deixando este extremo de situação, que tem precedentes históricos não muito agradáveis de recordar, sejamos realistas e imparciais. Quem rouba são os ladrões, seja de que raça etnia ou estrato social forem. Aquilo que se passou não representa aquilo que é normal, foi um acontecimento extraordinário que deve ser encarado como tal. Uma situação de crise económica desencadeia taxas de desemprego elevadas, que no caso português são particularmente severas para as famílias pobres. Se quem tinha pouco passa a ter ainda menos, comparando com uma fatia relevante de população que vive muito acima da média, compreende-se algum desespero e sentimento de revolta. Estes sentimentos manifestam-se de diferentes formas: num país desenvolvido, em que as pessoas têm alguma formação (informação), fazem-se manifestações e apelos políticos; num país menos desenvolvido como é o nosso, não tendo muitas pessoas a informação necessária que lhes permitiria lutar pelo que acham mais justo, fazem justiça pelas próprias mãos em forma de criminalidade. Legitimo? Diria que é tão legítimo como chamar etnia a uma raça! (pelo menos é causado pelas mesmas razões)!
Sou aqui obrigado (porque, caso estivesse apenas a analisar o fenómeno da criminalidade não o teria que fazer) a abordar a questão da imigração. Os imigrantes são necessários e essenciais à economia e ao crescimento económico. Eles não roubam o trabalho a ninguém, porque normalmente fazem trabalhos onde existe falta de mão-de-obra ou então trabalhos socialmente desagradáveis para os nativos. O mercado de factores (que é o mercado por onde circulam os trabalhadores) encarrega-se de controlar o nº de imigrantes, não podendo ser a eles atribuída a responsabilidade de toda a criminalidade!
Em Portugal temos tido um aumento da imigração de pessoas com formação superior, estas pessoas são do ponto de vista económico mais valias claras, visto que, nós não pagamos pela sua formação e vamos usufruir das suas capacidades.
Por outro lado, os portugueses sempre procuraram fortuna noutros países, seria algo ridículo da nossa parte fechar as portas a quem faz agora o mesmo que nos sempre fizemos (muitos dos imigrantes que temos hoje provêm de países que procuramos em tempos para nos instalarmos).

Bem, quero com isto dizer que… FODA-SE estou farto das demonstrações racistas e xenófobas depois da merda dos assaltos!
Abram os olhos, o mundo é injusto para todos não é só para nós, pena ser só nisso que nos sentimos todos iguais!!!

terça-feira, junho 14, 2005

Renovação

Num curtíssimo espaço de tempo morreram o Vasco, o Eugénio e o Álvaro. Nenhum era novo e certamente nenhum desejava ficar cá para semente. Dois deles estavam fortemente ligados por um factor comum: o PCP. Por outra ordem de associação, dois deles também estavam fortemente ligados pela cultura. Dois legam obra política (embora, em retrospectiva, talvez não a que desejassem) e outro lega obra artística sob a forma de poesia. Todos tiveram a sua importância, o seu bocado de história portuguesa do séc. XX a si associada.

Não sei se algum deixará muitas saudades. Dois eram polémicos por ser políticos não centristas, outro era recatado. Este último viverá nas mentes de todos por muito mais tempo que os dois anteriores, aposto.

E agora que morrem os velhos (todos os dias acontece, não é? A minha mente ainda não encaixou bem sequer a morte de Yasser Arafat e Karol Wojtila, de tão habituado que sempre estive a observá-los a vida inteira) esperemos que haja espaço para os novos, que venham renovar a nossa algo senil vida cultural e política. Rei morto, rei posto.

P.S. Creio que algures por entre as hostes do PCP alguns se questionam se o Carlos não deveria antecipar um pouco a sua hora e seguir o exemplo do grande camarada Álvaro. Mas parece que nem nisso ele o consegue substituir.

quinta-feira, junho 09, 2005

Faz o que quiseres!

Comecemos por um pleonasmo. Hoje apetece-me fazer o que quero. Como tal, serei fiel ao manifesto tira-nódoas, e farei o que quero. Mais: como o que quero fazer é citar Rabelais e assim mostrar de que forma a máxima do título se expressa no original e como dessa forma estarei a enfatizar o quanto me apraz a referida máxima e ao mesmo tempo a recuperar o referido manifesto inaugural deste blog, retomarei o início. Esperemos que seja proveitoso este retorno à fonte originária.
CAPÍTULO LVII
COMO OS THELEMITAS REGIAM
A SUA MANEIRA DE VIVER
Toda a sua vida era regida não por leis, estatutos ou regras, mas segundo a sua vontade e franco arbítrio. Levantavam-se da cama quando queriam, bebiam, comiam, trabalhavam, dormiam quando tinham desejo disso; ninguém os acordava, ninguém os obrigava nem a beber, nem a comer, nem a fazer outra coisa qualquer. Assim o estabelecera Gargântua. Na sua regra só havia esta cláusula:
FAZ O QUE QUISERES.
porque pessoas livres, bem nascidas, bem instruídas, conversando em companhias honestas, têm por natureza um instinto e aguilhão que sempre as impele para factos virtuosos e ao retiro do vício, e a isso chamavam eles honra. E quando por vil sujeição são abatidos e subjugados desviam a nobre afeição, pela qual tendiam francamente para a virtude, para o rompimento desse jogo de servidão; pois nós empreendemos sempre as coisas proibidas e cobiçamos o que nos é negado.
Rabelais, Gargântua. Tradução de Maria Gabriela de Bragança, Edições Europa-América
E agora digam lá, quem é que não gostaria de viver aqui, nesta abadia com as regras viradas ao contrário, onde a lei se tornava em máxima livremente decidida por cada um? Rejeitemos a sujeição. Façam o que quiserem! E vejam lá se são felizes...

quarta-feira, junho 08, 2005

Constituição Europeia

Alguém tem estado minimamente atento à situação actual da nossa Europa? Terão as pessoas noção da significação que o não francês e holandês à constituição tem? Por ora, ainda não sabemos exactamente de que forma se decidirá a posição portuguesa, se será ou não através de referendo. Mas entretanto, dos países que já se pronunciaram, já obtivemos 2 respostas negativas. O voto francês era minimamente esperado, embora estivesse previsto que fosse mais renhido... toda a gente apostava num 51/49. Afinal, 55% dos Franceses rejeitaram a constituição, o que foi um choque para a restante Europa, visto que em França toda a classe política dominante apoiava o Sim e a França, para além de membro fundador da União, tem sido ao longo da sua história o país culturalmente dominante, o mais europeísta e aquele que sempre fez de voz da União. Ao que parece, o não reflectiu muito mais uma rejeição do povo face à situação do país - descontentamento com a classe política, desconforto face à perda de hegemonia francesa na Europa, fraca situação económica com aumento do desemprego e medo da perda de regalias sociais - do que propriamente uma rejeição face ao tratado em si, que muito pouca gente leu. Algumas das principais críticas dos franceses ao tratado prendiam-se com o medo do sistema supostamente liberal de matriz anglo saxónica que ele sugere. Curioso como do outro lado da Europa, chegam críticas dos países de leste à mesma constituição, por a considerarem demasiado proteccionista e apologista de um estado demasiado grande... Entretanto, o não holandês, ainda mais esmagador que o francês (62%) veio certamente na senda do francês. Na holanda, também o povo aproveitou qualquer sufrágiozinho onde lhe fosse dada a oportunidade de votar para dar uma nega à classe política.

Mas que raio? Esta gente anda a dormir? E em que é que dar uma nega à classe política por problemas internos vai ajudar a Europa no seu conjunto a fortalecer-se? Enquanto nós não conseguimos afirmar a Europa como potência mundial, o poderio ideológico e militar dos Estados Unidos e a crescente afirmação económica da China riem-se nas nossas costas. Em vez de nos unirmos cada vez mais, assistimos ao renascer dos nacionalismos. Para onde fugiste tu, velho sonho de uma europa justa, democrática, laica e unida?